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Relembrar acontecimentos históricos é remoer o passado?

Edição #2 | 28 de março de 2024

É incrível como o presente nos traz reflexões sobre o ofício de historiadores.

essa edição é um desabafo

Se você acompanha as notícias, deve ter visto que, recentemente, o presidente Lula teve um posicionamento mega infeliz sobre um acontecimento histórico.

Às vésperas dos 60 anos do golpe civil-militar de 1964, ao ser questionado sobre como lidaria com as comemorações por parte do Clube Militar, o presidente declarou que não vai ficar remoendo o passado.

Não bastasse isso, ele vetou os atos oficiais em memória aos 60 anos do golpe.

Tudo para “não se indispor com os militares”.

Uma atitude incoerente e desrespeitosa, diga-se de passagem.

Enquanto historiadora e pesquisadora da Ditadura Empresarial-Militar, eu fiquei (e estou) revoltada!

P*rra, para que servem os historiadores senão para remoer o passado? Qual é a utilidade da História se as coisas já aconteceram?

Percebe a desvalorização de historiadores? A negação da ciência histórica?

As atitudes do Lula me deixaram pistola a ponto de questionar sobre a utilidade da minha profissão. Senti que estou perdendo meu tempo ao realizar uma pesquisa sobre o período ditatorial, afinal “o povo já conquistou o direito de democratizar esse país” (sim, o Lula disse isso).

O pior de toda essa situação, é perpetuar o limbo em que os familiares dos mortos e desaparecidos se encontram.

O golpe de 1964 e a Ditadura deixaram marcas profundas na sociedade, feridas que lutamos ainda hoje para curar.

Rememorar a Ditadura é honrar a memória de suas vítimas, lembrar de seus nomes, suas histórias e suas lutas. É um ato de reconhecimento e respeito. 

Lutar por justiça para as vítimas da Ditadura é fundamental para reconhecer o sofrimento daqueles que foram silenciados e dar voz à memória.

E mais do que um tema de ordem pessoal, a memória também é de ordem política. Relembrar a Ditadura não é remoer o passado, mas sim um ato de justiça e compromisso com os mortos e desaparecidos.

É manter viva a luta pela verdade, memória e justiça — mesmo diante das tentativas de silenciamento.

Os crimes cometidos pelos militares e pela burguesia não podem ser esquecidos.

Os responsáveis devem ser punidos.

As vítimas e seus familiares devem ser reparados.

60 anos depois, ainda lutamos por justiça e reparação. A memória da ditadura não pode ser apagada.

Relembrar o passado não é remoer feridas. Relembrar o passado é um ato para a transformação social.

Confira os eventos sobre os 60 anos do golpe:

Seminário Estadual 1º de Abril Foi golpe! 60 anos da Ditadura Militar | IFPR - Presencial com transmissão ao vivo | 01/04

60 anos do Golpe de 1964: ciência em tempos de ditadura | MAST - Presencial | 01 e 02 de abril

60 anos do golpe de 1964 em Pernambuco | UPE - Presencial | 01 e 02 de abril

Mostra Ditadura Nunca Mais - 60 anos | Canal Brasil - Maratona | 01, 02 e 03 de abril

60 anos do golpe: justiça para Vladimir Herzog | Auditório Vladimir Herzog/SP - Presencial | 02/04

60 anos do Golpe Militar: lembrar para não esquecer | ANPUH-SP - Virtual | 15 a 19 de abril

60 anos do Golpe: um olhar interdisciplinar | UFF - Presencial | 18/04

Bom, obrigada por ler meu desabafo. Se você quiser complementar a reflexão, responde o e-mail/comentários para conversarmos.

Ah, compartilhe com as pessoas que precisam ler esse desabafo também.

Saudações históricas e até a próxima edição,

Paula Eloise.

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